terça-feira, 13 de outubro de 2009

Arquitudos

Crônicas Agudas: Arquitudos -- Aquela outra coisa
Por Sergio Teperman

"Pensei vagamente em estudar arquitetura, como todo o mundo. Acabaria como todos que eu conheço que estudaram arquitetura: fazendo outra coisa. Poupei-me daquela outra coisa, mesmo que não tenha me formado em nada e acabado fazendo essa outra coisa." Uma vez, sentado por pura coincidência (e deferência do diretor regional do Sesc) em uma mesa de quatro pessoas em um show na showperia do Sesc Pompeia, não tive a coragem de trocar uma só palavra com meu ídolo, autor dessa frase e conhecido pela sizudez: o escritor e jazzista Luis Fernando Veríssimo.

Porém sempre tive a curiosidade de entender porque há tantas pessoas famosas em outras atividades, mas cuja formação universitária é arquitetura. Evidentemente, a universidade proporciona uma base cultural que possibilita aos portadores de um diploma aventurar-se por diversas áreas do conhecimento ou, no caso de cursos fracos, do desconhecimento. Assim há médicos atuando no circo; engenheiros e advogados trabalhando em tudo o que é possível. Os engenheiros, por sua boa formação, fazem absolutamente de tudo e alcançam posições importantes em grandes empresas e órgãos oficiais. A verdade é que um país se constrói (literalmente) com engenheiros, e o maior exemplo é a impressionante quantidade deles que dirigiu a antiga União Soviética.

As universidades, mesmo as mais fracas, possibilitam a seus alunos um desenvolvimento intelectual. Ainda que os cursos sejam falhos e os professores piores ainda, o ambiente abre a cabeça dos jovens. As faculdades de arquitetura, em particular, por todo o aspecto cultural que cerca a profissão, oferecem muitos caminhos.

Este texto é apenas uma listagem curiosa (e bastante incompleta) de como nossos coleguinhas se viram, e muito bem, "naquelas coisas" do Veríssimo. Favor não interpretar erroneamente a expressão "naquelas coisas", muito embora haja o boato de que alguns arquitetos também são razoáveis "naquelas outras coisas".

Então aí vai uma listinha, que os ingleses chamam de shortlist, de arquitetos ou ex-tudantes de arquitetura (não entram na lista artistas plásticos ou cenaristas porque ela se tornaria uma lista telefônica):

Músicos: Falcão, Elomar, Fausto Nilo, Maranhão, os irmãos Caruso, Billy Blanco, Arrigo Barnabé, Guilherme Arantes, Francisco Buarque de Holanda e Antonio Carlos Brasileiro (e pré-ecológico) de Almeida Jobim

Escritores: Milton Hatoum e José Agripino de Paula (meu colega "Lapa")

Chefs: Ana Soares e Roberto (quem diria) Ravioli

Garoto-propaganda: o ótimo ator Carlos Moreno (Bombril)

Esportistas: Ícaro de Castro Mello (com esse nome só podia ser recordista sul-americano do... salto com vara!)

Assassinos: Albert Speer, ministro de armamentos do 3o Reich e 2o homem da Alemanha nazista, que ainda desenhava casinhas na Baviera (e a Berlim dos 1.000 anos) e Mohammed Atta, o piloto egípcio que comandou o ataque ao World Trade Center

Presidentes: Belaúnde Terry (Peru); Sukarno (Indonésia), Thomas Jefferson (EUA), que nas horas vagas projetava Washington

Assessores presidenciais (ninguem é perfeito): José Expedito Prata (FHC) e Clara Ant (Lula)

Costureiros, ou, mais chique, estilistas: Pierre Balmain, Gianfranco Ferré, Cristobal Balenciaga, Gianfranco Gianetti (sócio de Valentino Garavani), além de Albert de Givenchy, Paco Rabanne que fizeram a École des Beaux Arts ou Arts Décoratifs e John Galliano

Uma história curiosa: quando trabalhava em Londres, me inscrevi em dois cursos noturnos de design na Central School of Arts and Crafts e na St. Martins College of Art and Design. Na St. Martins descobri rapidamente que não ensinavam design, só moda e fiz a besteira de largar o curso onde estudavam as mocinhas mais bonitas e finas de Londres, vestidas com as famosas mini de Mary Quant. Pois bem, John Galliano estudou aí.

Enfim, nossa profissão e nosso dia a dia são muito duros para falarmos só de seus problemas. Podemos de vez em quando nos dar ao luxo de "relaxar e gozar", como aconselhou uma ministra durante a crise aérea. Vamos enfim pensar que arquitetura também tem as suas 1.001 (f)utilidades, como a decoração. E lembrar de sua mais brilhante representante: Natália Guimarães, a miss Brasil.

Fonte: www.revistaau.com.br


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